Close

Poema de Quase Morte, Morte, e Quase Vida

Poema de Quase Morte, Morte, e Quase Vida

Poema de Quase Morte, Morte, e Quase Vida

Naqueles dias de maio, sem saber bem o porquê, o sono e o sonho não eram possíveis.     

Um desassossego rondava meus pensamentos e, sem entender de onde vinham, me esforcei para descansar, fui sentindo-me desprender, me desprender até apagar minha consciência…

Num subterrâneo ignorado de um lugar qualquer, frio, úmido e escuro eu caminhava…

Tinha uma poça de sangue, que escorreu pelos meus olhos no instante em que as balas do fuzil, na frieza da emoção atravessaram os corpos… eu vi.

Em câmera lenta se quedaram, junto com o sangue que escorreu pelos meus olhos.

Na mente, o vazio, no peito o vazio.

Só ficamos nós: o sangue escorrendo pelos olhos e eu…  Silêncio.

Numa tomada de consciência absolutamente perturbada pensei: não sou mais corpo, não sou mais nada, sou um número na estatística do Estado, sou memória viva nas ruas, onde desfilam os que ainda tem corpos, gritando: JUSTIÇA!

No primeiro instante não acreditei… aconteceu comigo? Não!!!

Sempre me imaginei imortal, mas as pernas falharam, a voz falhou, o coração falhou.

Eu vi a escuridão me envolvendo, ao longe murmúrios incompreensíveis, inaudíveis, e eu insensível, presa no Tempo, suspensa, olhando de cima, aquele macabro movimento.

Naquele momento a respiração me pareceu o movimento mais importante da vida, entendi, numa fração de segundos toda força e fragilidade da vida, da minha vida, da existência, aquele filme que nunca foi ensaiado, era a minha vida, meu enredo, meu roteiro, meu argumento!

Face a face com a Ceifadeira, a Senhora me disse: não é tempo de ir, você tem muito a fazer, esse é só o aviso para te ajudar a decidir, a recalcular sua rota, reta, única… volta e conta que “aqui” não é ruim, mas “lá” é melhor.

Ter um corpo é necessário para realizar, comunicar, morar. Cuide do seu Corpo-Templo!

Veremo-nos novamente, na fenda do Tempo, não precisa ser hoje, volte a brincar, sorrir, sonhar, cantar, dançar, desenhar, aprender e ensinar… E no “looping” mais emocionante que já experimentei, vesti meu Corpo-Templo e tomei de volta o sopro da vida, anos-luz amadurecida.

Abri meus olhos, levei as mãos a eles temendo ver o sangue novamente escorrendo, estavam molhados sim, de lágrimas, de um pesadelo, saltei da cama disposta a viver todos os meus dias honrando minha vida, honrando meu corpo, ao passar pela sala, numa caixa tecnológica com controle remoto, aprisionado, meu pesadelo desfilava…

Poeta Vilma Rocha

Leia Também

4 Comentários

Deixe um Comentário

Deixe um Comentário

Seu endereço de email não será publicado. Campos marcados com asterisco (*) são obrigatórios