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Então é Natal, a Festa Pagã!

Então é Natal, a Festa Pagã!

Então é Natal, a Festa Pagã!

Dezembro chegou e é a época das festas de fim de ano. Milhões de pessoas principalmente no Ocidente estão decorando suas casas com pinheiros, luzes e guirlandas, pensando na ceia de Natal, comprando presentes para a família e amigos, levando as crianças no shopping para ver o Papai Noel… A maior parte da sociedade em conformidade com as versões capitalista e cristã dessa celebração.

Em contrapartida, muitos bruxos e bruxas neófitos sentem-se confusos e deslocados dessa egrégora convencional, ainda mais no Brasil, onde várias correspondências do inverno europeu foram adotadas. Para compreender melhor como o Natal se tornou o que é hoje, é necessário fazer um resgate histórico até suas origens pré-cristãs.

Natal: Desde os Primórdios

Desde os primórdios da humanidade, diferentes civilizações em todo o mundo celebravam os ciclos da natureza: as mudanças das estações, as fases da Lua, os estágios da vida… Há mais de 7 mil anos antes da Era Comum O Sol era cultuado como o Deus fertilizador da Terra, que na primavera e no verão mostrava toda sua força e virilidade, já no outono e no inverno ele enfraquecia e morria, para então renascer.

No Império Romano existia o festival da Saturnália, realizado durante a semana em que ocorria o solstício de inverno, em honra ao Deus Saturno. Os agricultores pediam que Ele abençoasse suas colheitas e não as castigasse com um inverno rigoroso, ao mesmo tempo em que esperavam pelo retorno triunfante do Sol, trazendo nova vida à Terra. Falando em associar ritos agrários a divindades solares, temos Apolo e Hélios, incorporados do panteão grego, e o deus persa Mitra, ou o Sol Invicto, oficializado seu culto pelo imperador Aureliano em 25 de dezembro de 274 antes da Era Comum.

Nos festejos da Saturnália as pessoas faziam banquetes, cantavam, dançavam, bebiam e trocavam presentes. Inclusive os escravos temporariamente podiam descansar e ser servidos por seus amos. A alegria e a liberdade eram intensamente aproveitadas durante aproximadamente uma semana. Essa extravagância e inversão de valores inspirou outra data que deu grande fama ao Brasil, mas isso é assunto para outra hora.

Indo mais ao norte da Europa, as tribos celtas honravam ao Deus Cornífero em sua face da Criança da Promessa no Sabbat de Yule, que mesmo tendo varias características originais modificadas com o passar dos séculos, ainda em sua essência continua sendo celebrado por bruxos e bruxas contemporâneos. Um dos símbolos mais fortes do Natal, o pinheiro, uma das poucas árvores que sobrevive ao frio extremo, representava a vida que resistia a parte escura da Roda do Ano

Natal: Novos Rumos

Com a ascensão do cristianismo e posterior oficialização por Constantino em 313 da Era Comum, as coisas foram tomando outro rumo. Como proceder a fim de converter a todos que estavam sob domínio de Roma? O melhor jeito encontrado foi ressignificar a antiga expressão religiosa: as luzes das velas e os sinos não mais dão as boas vindas ao Sol, mas a Jesus Cristo, a Terra não mais sendo o corpo da Deusa, que dá a luz ao Deus na noite mais longa do ano, e sim Maria que traz o Deus Menino ao mundo. O pinheiro enfeitado não mais simbolizava a força e a esperança necessárias para sobreviver ao inverno, e sim a decoração para receber as bênçãos do novo aniversariante.  

Sendo assim, no século IV depois da Era Comum 25 de Dezembro decretado como Natal, provavelmente pelo Papa Júlio I, suplantando o paganismo, colocando uma figura sagrada no lugar de outras, que foram demonizadas e relegadas ao esquecimento, deixando apenas alguns vestígios de sua existência. O Cristianismo tomou para si como expressão do mal os chifres de Cernunnos, aliás, não coincidentemente Cristo também é chamado de “luz do mundo”, e em grego Lúcifer significa “o portador da luz”…

Um dos personagens mais icônicos do Natal, o Papai Noel, também é fruto da mistura entre tradições pagãs e cristãs. A lenda nórdica do Velho Inverno contava que um homem idoso e barbudo batia de casa em casa pedindo comida, e para aqueles que o acolhessem era prometido um inverno mais brando. Da mesma região, o deus Odin possui características semelhantes a Noel. Ele presenteava as crianças na véspera do solstício de inverno, montado em seu cavalo e sobrevoando sobre as casas.

Na Turquia do século VI depois da Era Comum, vivia o bispo Nicolau de Mira, conhecido por sua caridade com as crianças. Seu ato mais célebre de generosidade foi salvar três jovens da prostituição, dando-lhes sacos de moedas que serviram como dotes para ela poder se casar. Após sua beatificação tornou-se São Nicolau.

No século passado, a partir de 1931, a figura do “bom velhinho” bonachão e rechonchudo conquistou o imaginário de meninos e meninas mundo afora. A Coca-Cola precisava de algo para atrair a atenção das crianças, e nada melhor do que se aproveitar do fascínio que o carismático Papai Noel exercia sobre elas e botar sua imagem nas propagandas. Dito e feito, ele pegou carona rapidamente no trenó da mercantilização da infância.

No Brasil é o verão que chega em Dezembro. Não faz sentido para uma espiritualidade ligada a natureza seguir um calendário desconectado com o que pode ser sentido onde estamos. Portanto, para nós que estamos no hemisfério Sul é mais coerente celebrar Litha, o solstício de verão, e deixar Yule para junho. Agora, se você deseja montar um pinheiro só pelo clima de festa dia 24 reunir a família para confraternizar, sem um sentido religioso, e sim pelo prazer de estar com seus entes queridos, com certeza é válido.

Afinal, sem prejudicar a ninguém, faça o que tu queres, é a lei básica da bruxaria.

Meu nome é Heloísa Panisson Fagherazzi, tenho 28 anos, sou natural de Caçador, SC e tenho graduação em História. Sou bruxa, apaixonada por literatura e línguas estrangeiras.

Heloísa Panisson Fagherazzi

@helopanisson

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