Close

Quero ficar no teu Corpo feito de Tatuagem

Quero ficar no teu Corpo feito de Tatuagem

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem…”

E nesses tempos nebulosos veio a notícia do rapaz que sequestrou a ex-namorada e a devolveu para a família com o nome dele tatuado no rosto dela.

Segundo Joshua Mark, as tatuagens, dentre suas inúmeras manifestações simbólicas, eram usadas como marca de servidão.  No antigo Egito, por volta de 3100 anos antes de Cristo, mulheres eram “marcadas” a partir de tatuagens. A intenção era de mostrar que elas eram do harém do rei.  Das tatuagens faciais mais conhecidas por nós ocidentais, aquelas dos povos Maoris, na Nova Zelândia, servem para identificar uma ligação de pertencimento.

E foi essa a primeira mensagem do agressor: o pertencimento. Pertencer é ser propriedade de alguém, ser parte do domínio de. Quando você pertence a alguém, você se submete a este. A submissão é mais uma renúncia ao combate do que à nossa liberdade. Não se submeter requer uma energia enorme.

É por isso que a submissão tem um custo imenso: renunciar a algo precioso na existência como é a liberdade de decidir como queremos levar nossa vida. E submeter uma mulher à força é como usar uma bala: municia a arma que um dia poderá matá-la.

No mundo morrem hoje seis mulheres por hora vítimas de pessoas próximas, a maioria companheiros ou ex-maridos.

“Mulher com tatuagem é vadia, rodada, não vale nada! ”

Na trilha da maldade, invalidar a mulher também é parte do propósito destrutivo do tal sujeito. Invalidar é, acima de tudo, tirar da mulher toda a importância que ela pode ter para a sociedade e, pincipalmente, para outros homens com quem ela possa vir a se relacionar. Uma mulher com uma tatuagem exposta dificilmente passa despercebida pelos homens.

Os poucos estudos que se concentraram nas percepções dos homens sobre mulheres tatuadas descobriram que essas mulheres foram vistas sob uma perspectiva, geralmente, negativa. Uma pesquisa do psicólogo Nicolas Guéguen, da Universidade da Bretanha, na França apontou que uma boa parte dos homens entrevistados não veem as mulheres tatuadas apenas como menos atraentes, eles também as veem como mais promíscuas.

Nosso corpo: um templo sagrado

Quando o corpo de uma mulher é tratado como objeto, fica mais fácil descartá-lo. Ao tatuar o rosto da ex-namorada ele usou o princípio das “nazi-tatuagens” como forma de marcação e exclusão. Afinal, com uma tatuagem aparente, você não pode se dar ao luxo de ter um emprego convencional. Então, além de coloca-la num lugar de desrespeito enquanto mulher ele a exclui do mercado de trabalho formal já que uma numa empresa mais conservadora o tipo de arte e o local ainda interferem durante o processo seletivo.

E assim, o templo foi violado. Por conta de uma construção social que prega que homens são donos dos nossos corpos.  A tatuagem, enquanto arte milenar que já serviu para unir tribos, afastar inimigos, registrar conquistas pessoais foi usada neste caso   como mecanismo de tortura ficando à disposição da misoginia e do patriarcado.

Morgana Leal

Referência Bibliográfica:

  • MARK, J. Tatuagens no Egito Antigo. Ancient History Encyclopedia. Joshua J. Mark (editor)

Leia Também

Deixe um Comentário

Deixe um Comentário

Seu endereço de email não será publicado. Campos marcados com asterisco (*) são obrigatórios