Pinga e Anguta, aqueles que conduzem a Terra da Lua
O nosso planetinha tem muitas histórias lindas e pouco conhecidas. Aqui para nós, nessa terra brasilis, talvez pela distância e pelo sucateamento sistemático da arte do pensar, deixamos de usufruir de conhecimentos ancestrais ricos e poderosos como este que vou relatar. Trata-se de um pequeno recorte da mitologia inuíte, um povo com origens que remontam a 40 mil anos e seus remanescentes habitam nas regiões do Alasca, Canadá e Groenlândia.
Os inuítes, descendentes dos dorset e dos thule, que vieram da Sibéria, através do estreito de Bering ou como era originariamente conhecido “a ponte de pedra de Bering”, são uma das poucas culturas que sobreviveram no norte da Terra. Inuite aliás, significa “ser humano” e Inua é a sua força vital. Para esse povo, todas as pessoas, animais e plantas possuem uma alma e estas almas devem ser reverenciadas e respeitadas. Abater um animal para se alimentar requer um ritual de reverência e gratidão que deve ser feito por um xamã, chamado Anganuit. É através dele também que a comunicação entre os seres viventes e os espíritos ancestrais se realiza. Essa comunicação é feita através da Aurora Boreal.
É interessante saber que o sistema de crenças Inuite se baseia na veneração do Cosmos, que não acreditam em seres supremos ou criadores e tratam tudo que é da terra de maneira igualitária, respeitando os humanos, animais e plantas da mesma forma, pois acima de tudo acreditam que todos somos iguais. Mesmo não tendo deuses como as demais religiões, existem deidades em sua cultura, mas elas não recebem um tratamento de adoração e sim de respeito. Existem inúmeras dessas deidades, seres que representam algo de extrema importância na natureza.
Na rica mitologia Inuite, podemos encontrar Sedna, a deusa do mar, moça bonita que se apaixona por um navegante estrangeiro, os irmãos Malina e Igaluk, deusa do sol e deus da lua, e o gigante e poderoso lobo Amarok. E vamos encontrar também Pinga e Anguta, responsáveis por conduzir as almas à Terra da Lua onde irão para encontrar a paz e a vida eterna. Pinga é uma deusa ligada a caça, fertilidade e a medicina. Seu nome significa: “A mulher lá de cima”. Isso faz referência a seu lugar como deusa da caça e observadora do bem-estar de todos os animais. Ela também é conhecida por seu relacionamento com xamãs tribais. Como curandeira, Pinga é frequentemente canalizada pelos xamãs Inuite para que obtenham habilidades e o conhecimento para curar.
Anguta é um psicopompo (guia de almas), transportando almas da terra dos vivos para o submundo, chamado Adlivun. Essas almas devem então dormir lá por um ano antes de irem para Qudlivun (“aqueles acima de nós”) na lua, onde desfrutarão da bem-aventurança eterna. Anguta é o pai da deusa do mar Sedna. Em certos mitos da Groenlândia Inuit, Anguta (também chamado de “Seu Pai” ou Anigut) é considerado o deus criador e é o ser supremo entre o povo Inuit. Em outros mitos, Anguta é apenas um viúvo mortal. Seu nome, que significa “homem com algo para cortar”, refere-se à mutilação de sua filha, Sedna que finalmente resultou em sua divindade, um ato que ele realizou em ambos os mitos.
E essa é parte da riqueza da mitologia inuíte. Um estudo das lendas, mitos, narrativas e rituais, com que esse povo reverencia os deuses têm um caráter social desde sua origem. Isso pode nos trazer conhecimentos incríveis que aprimoram nossa visão de mundo, nossa sensibilidade naquilo que não é tangível, nos caminhos que nos levam a externar nossa espiritualidade.
Pinga e Anguta estão aí para nos mostrar que não estamos sozinhos, mesmo nos momentos mais extremos. Sempre teremos a mão amorosa da Mãe Terra a nos conduzir por novos caminhos.
Senhora, Mãe, Deusa,
eu A reverencio e invoco Seu sagrado nome para abençoar a minha vida,
lhe agradeço pelas dádivas e por me receber no fim da minha jornada.
Senhora, Mãe, Deusa,
Prece Inglesa so Século XI
eu A reverencio e invoco Seu sagrado nome para abençoar a minha vida,
lhe agradeço pelas dádivas e por me receber no fim da minha jornada.
Ah, sim….. antes que eu me esqueça: nunca chame um inuíte de “esquimó”. Esse é um termo pejorativo que significa “comedor de carne crua”, em parte por associação a uma hoje desconsiderada teoria etimológica que lhe atribuía este atributo mas sobretudo por não corresponder a uma autodenominação.
Morgana Leal
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2 Comentários
Salve! Oi Morgana, tudo bem? Gosto muito do nome e do conceito do seu blog. Acho icônico esse nome (quem mora na periferia entenderá rsrsrsrs). Quero te pedir uma gentileza: de vc indicar as fontes as quais vc consultou para fazer esse texto. Estou pesquisando sobre magia com o povo Inuite (por isso achei seu texto, e lindo por sinal). Gratidão.
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