O Direito e o Nascer
Como foi seu parto?
A hora do parto é um momento mágico e milagroso, mas também cheio de incertezas e inseguranças.
Quando estava gestando meus filhos, antes de conhecer a bruxaria e o sagrado feminino, sempre que pensava no momento de dar à luz, muitos questionamentos e incertezas pairavam em meus pensamentos. Como poderia um momento tão importante de nossas vidas, acontecer distante de nossas famílias e daqueles que nos amam?
A minha memória ancestral veio a tona e me lembrei que os nossos nasciam no aconchego do lar, cercados de amor, afeto e rostos conhecidos. É evidente que eu sabia que não estávamos mais no passado e que as coisas mudaram. E como mudaram!
Nossas antepassadas tinham seus filhos de cócoras, auxiliadas pela lei da gravidade, hoje temos nossos filhos deitadas na cama dos hospitais, sem essa ajuda extra.
As coisas se transformaram tanto que hoje, nós mulheres periféricas, temos nossos filhos nos hospitais (quando conseguimos chegar antes do bebê nascer, depois de ter percorrido vários hospitais), e as mulheres ricas estão tendo seus filhos em casa, acompanhadas de médicos, parteiras e doulas.
Violência Obstétrica
Recentemente, uma blogueira/influencer foi vítima de violência obstétrica, num grande hospital e acompanhada de seu esposo. Isso não foi impedimento para o médico agressor. A atual legislação brasileira nos garante o direito a um parto humanizado e a um acompanhante, mas isso não inibe certos profissionais da saúde que se consideram seres superiores, livres de punições, que não respeitam os direitos e a lei. Esses maus profissionais realizam procedimentos invasivos sem o consentimento das pacientes, sem contar as agressões verbais e psicológicas.
Não bastasse a dificuldade que a condição social já impõe, nós mulheres periféricas ainda temos que ser humilhadas e desrespeitadas.
Nas duas vezes em que estive nos Hospitais para ter meus filhos sofri e presenciei violência obstétrica. Vi uma moça desmaiar, porque a enfermeira tirou um curativo de sua cesariana sem passar nada para soltar um esparadrapo que tinha aproximadamente dez centímetros de largura. Eu não consegui tomar meu primeiro banho de forma adequada, porque o sabonete caiu no chão e não tinha ninguém para me auxiliar.
Após meu segundo parto, quando minha mãe foi me visitar, pedi a ela que me levasse embora, mesmo meu filho não estando de alta, pois eu tinha tantos pontos e não conseguia me levantar sozinha para ir ao banheiro, e não havia ninguém que me ajudasse, não conseguia falar direito, e estava com o pescoço todo roxo, nada foi feito sobre isso.
Na época eu nem sabia o que era violência obstétrica, e não pensei em denunciar porque se tratava de uma prática comum, mas hoje tenho conhecimento e o conhecimento liberta.
Se você ou alguém que você conhece passar por situações de violência, antes, durante ou depois do parto, denuncie. O silêncio faz com que os maus profissionais agressores se sintam impunes e livres para continuar com suas práticas de humilhação e violência. Temos que denunciar e cobrar punição, para que as vidas cheguem a esse mundo num ambiente seguro, amoroso e acolhedor.
Rosana Guerra
Eu sou Rosana Guerra, professora da História da rede pública estadual, bruxa, Taróloga, terapeuta holística, co-idealizadora do Projeto Ventre de Afrodithe para mulheres em situação de vulnerabilidade menstrual.
Tenho 44 anos, e sou uma bruxa da Quebrada pois resido no Recreio São Jorge, periferia da cidade de Guarulhos SP.
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